A vida da Fundadora
Madre Maria Bernadete de Jesus
Na vida da Igreja, Deus vai suscitando em alguns o dom de iniciar uma obra que abre caminho para um enriquecimento desta mesma Igreja. O mais importante é abrir-se à vontade de Deus e deixar-se conduzir pela ação do Espírito Santo e daí resulta a alegria de colaborar com Deus com a existência de mais um Instituto de Vida Consagrada.
Como é belo, sublime, presenciar entre homens e mulheres que se decidem sem medo de levar em frente a iniciativa de Deus. Todos encontram dificuldades, mas a graça de Deus é muito maior do que a nossa pequenez.
A vida de nossa Fundadora, Madre Maria Bernadete de Jesus, é simples e nasce do mais profundo de sua consagração a Deus, onde sem medir esforços deixa tudo pela causa do Reino e pela Santificação dos Sacerdotes. Na medida em que formos analisando a sua vida, veremos a riqueza que ela é para todos nós e para a vida da Igreja.
A Infância
Maria Madalena de Figueiredo nasceu em Souza, na Paraíba, aos 22 de julho de 1918. Seus pais chamavam-se Manoel Francisco de Figueiredo e Francisca Maria de Figueiredo. No dia 1º de setembro de 1918, foi batizada na Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, em Souza, na Paraíba. Seus padrinhos foram Francisco e Maria, os seus avós maternos. Primeira de doze irmãos, o fato de seus pais serem profundamente católicos levou-a logo cedo, a uma grande devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à Nossa Senhora e à Eucaristia.
Com três anos de idade, recebeu o sacramento da Crisma, no ano de 1921, na Catedral Nossa Senhora da Piedade, em Cajazeiras, na Paraíba. Quem presidiu a cerimônia foi seu Bispo D. Moisés Coelho e sua madrinha foi Dona Adelina, amiga da família.
No dia 19 de junho de 1926, chegou o momento mais esperado: a primeira comunhão. Quem presidiu a Santa Missa foi D. Moisés Coelho, na Catedral Nossa Senhora da Piedade. Ela diz: “Foi a minha maior felicidade neste dia”. Era a sua própria mãe quem preparava os filhos para a primeira Comunhão, embora houvesse outras catequistas.
Com aproximadamente nove anos de idade, fazia a Hora Santa às quintas-feiras, das onze à meia noite, ajoelhada aos pés da cama. Não acendia a luz para não chamar atenção. Mesmo assim, uma noite, sua mãe que costumava olhar se as crianças estavam bem acomodadas, tropeçou e ia caindo por cima dela. Ficou assustada e perguntou o que ela estava fazendo. Não sei se o segredo foi revelado.
Costumava acompanhar seu pai para a adoração noturna na Catedral Nossa Senhora da Piedade às primeiras quintas-feiras do mês. O seu pai era o presidente do Apostolado da oração e assim em todas as primeiras quintas-feiras ia com os outros homens para a adoração. Ela ficava a noite com a organista Vitória, no coro, pois era muito pequena e, além disso, ficavam apenas os senhores adoradores. Não dormia. Passava a noite toda cantando e rezando.
O seu pai era Vicentino e ela o acompanhava na visita aos doentes e velhinhos, e nessas visitas aproveitava para dar catequese, conforme o que aprendia com sua mãe. Chegou mais de uma vez a preparar esses doentes para os sacramentos da Penitência e da Eucaristia. E isso acontecia muitas vezes. Tinha um grupo não só de crianças, mas também de adultos que ela reunia em sua casa para dar catecismo e uma espécie de escolinha, para aqueles que não tinham possibilidade de, por um motivo ou outro, frequentar colégio.
Ela estudou no colégio das Irmãs Dorotéias, em Cajazeiras, na Paraíba. No colégio havia uma religiosa, a superiora, chamada Madre Borges, que era a sua diretora espiritual. As Irmãs Dorotéias esperavam que ela se tornasse religiosa em sua Congregação. Mas como veremos, Deus tinha outros planos sobre ela.
Desde pequena sentia o desejo de consagrar-se a Deus. A sua mãe lia muito a vida dos Santos, principalmente a vida de Santa Terezinha do Menino Jesus. Ela brincava de freira com o irmão que fazia a vez de padre e celebrava a missa.
Perdeu a mãe aos doze anos de idade e sendo a mais velha assumiu a direção da casa, tornando-se um grande apoio e consolo para seu pai e seus irmãos que ficaram pequenos, onde até hoje seus irmãos a chamam com todo carinho de mãezinha.
Aos quinze anos, querendo realizar o seu sonho de ser Religiosa e não querendo deixar o seu pai sozinho com seus irmãos, conseguiu com a ajuda do seu irmão mais velho, convencer o pai que devia casar-se novamente. E, para isso, eles mesmos escolheram àquela que devia ocupar o lugar de sua mãe. Era uma moça muito piedosa e amiga da família. No começo o pai não queria aceitar, mas com o jeitinho que Madalena tinha de conversar, acabou convencendo-o e tudo deu certo. Ela também teve a ajuda do primo de seu pai o Monsenhor Manuel Vieira que o aconselhou a casar-se. Ele era o diretor espiritual de seu pai.
Surge o momento, talvez o mais difícil para ela, como falar ao pai em separação. Ela o conhecia bem de perto, e sabia o quanto a amava! Mas o desejo de ser Religiosa era mais forte do que tudo. Preparou, rezou e aguardava com ansiedade a oportunidade de falar com seu pai. E, um dia, caminhando com ele para participarem da Santa Missa, aproveitou e tratou do assunto. Como era de esperar, no começo ele demorou a aceitar, devido tratar-se da primeira filha e ter sido o seu apoio e consolo nas horas difíceis pelas quais tinha passado com a perda da esposa. Mas acabou cedendo. Ele era um senhor de grande formação religiosa e muito piedoso.
É bom lembrar que já no seio da família, tinha-se um grande amor e respeito pelo sacerdote e seus pais não admitiam que ninguém falasse mal de nenhum sacerdote dentro de casa. Uma vez o seu pai pediu a um senhor que se retirasse de dentro de casa, porque ele começou a falar mal do sacerdote. Ele disse: aqui dentro ninguém fala mal do sacerdote.
A entrada para a Vida Religiosa
Com o consentimento de seu pai, entrou para o Carmelo das Carmelitas Missionárias, em Cajazeiras, na Paraíba, onde morava, em junho de 1937, com dezoito anos de idade. Ao entrar para o convento, sentia muita saudade da família, mais dizia consigo: “eu sei que vou morrer de saudade, morro, mas não saio, porque vim foi para ficar”.
No dia 15 de agosto de 1938, recebe o hábito e o véu de postulante das mãos de seu Bispo, D. João da Mata, depois de ter participado do retiro de três dias pregado pelo mesmo. No mesmo dia, já foi participar a tarde da procissão da festa da Padroeira Nossa Senhora da Piedade. Fez a vestição com mais quatro jovens. No seu postulantado ajudava a mestra de postulante e trabalhava em tudo o que precisava.
No dia 10 de fevereiro de 1939, entra para o Noviciado. Vestida de noiva se aproximou do altar ao lado de seu pai. A avó materna D. Maria também assistiu. A cerimônia foi presidida por D. João da Mata e por mais cinco sacerdotes. No dia 11 de fevereiro de 1941, fez a sua Profissão Temporária. Desde que entrou para o Carmelo, aí permaneceu. Fez o seu Postulantado, o Noviciado e os Votos temporários.
Ao receber o hábito de Carmelita, passou a se chamar Irmã Maria Bernadete de Jesus. O seu único sofrimento era o de sair do convento, por isso, fazia bem todas as coisas para nunca dar motivo para ser mandada embora. Como Carmelita dedicou -se intensamente à uma vida de oração, sacrifício e trabalho. Era uma pobreza muito grande e havia muito trabalho. Durante algum tempo assumiu a direção de um Colégio onde lecionava e fazia todo o trabalho necessário.
No dia 10 de agosto de 1950, fez a sua Profissão Perpétua. Quem recebeu os seus Votos Perpétuos foi o Frei Clemente, Carmelita. Foi ele quem também pregou o retiro em preparação para os Votos. Já tendo emitido os Votos Perpétuos, foi eleita a Superiora Geral das Irmãs Carmelitas Missionárias em janeiro de 1952.
Desde criança tinha um grande amor pelos sacerdotes e agora como Superiora Geral, manifesta o seu grande desejo ao seu Bispo D. Luiz do Amaral Mozinho, de incluir nas Constituições junto aos três votos de castidade, pobreza e obediência, uma cláusula que seria de Imolação pela Santificação dos Sacerdotes.
Luiz do Amaral Mozinho que a nomeou como Superiora Geral deu todo apoio, mas logo foi transferido para a Diocese de Ribeirão Preto em São Paulo e o seu sucessor, D. Zacarias, se acomodou e não dizia sim nem não. O tempo ia passando e crescia cada vez mais o desejo de realizar o seu sonho. Foi orientada pelo padre fundador Frei Casa Nova, que escrevesse para o Geral dos Carmelitas em Roma. Ele aprovou imediatamente, mas D. Zacarias não aceitou.
Madre Maria Bernadete veio à São Paulo para aconselhar-se com D. Luiz do Amaral Mozinho, Bispo da Diocese de Ribeirão Preto . Ele a recebeu com muita alegria e depois de ouvi-la, aconselhou-a que não voltasse mais para Cajazeiras e escreveu uma carta ao Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, o Cardeal D. Jaime de Barros Câmara, encaminhando-a para esta diocese.
Texto: Ir Luzia.